sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Misto-quente

- Este é o Henry Jr.?
- Sim.
- Ele só fica olhando. É tão quietinho.
- É assim que queremos que ele seja.

(...)

- O que ele fez exatamente?
- Falsificou alguns dimes.
- Dimes? Jesus Cristo, mas que tipo de ambição é essa?
- John não queria ser um bandido de verdade.
- Parece que ele não quer ser nada.
- Ele seria, se pudesse.
- Claro. Assim como uma cobra não se arrastaria se tivesse asas.

(...)

Naquela tarde depois da escola eu caminhei apressado para casa, logo que a aula terminou, sem esperar por David. Não queria vê-lo apanhar novamente dos nossos colegas ou da sua mãe. Não queria ouvir o seu triste violino. Mas no dia seguinte, na hora do almoço, quando ele se sentou comigo, comi suas batatas fritas.

(...)

Não sabia se estava infeliz. Sentia-me miserável demais para ser infeliz.

(...)

Havia apenas meu pai e a correia e o banheiro e eu. Ele usava aquela correia de couro para afiar sua navalha, e logo cedo pelas manhãs costumava odiá-lo com sua cara branca pela espuma de barbear, plantado na frente do espelho, a navalha na mão.
(...)
Escutei seus passos ecoando para fora do banheiro. Fechou a porta atrás de si. As paredes eram lindas, a banheira era linda, a pia e a cortina do chuveiro eram lindas, e até mesmo a privada era linda. Meu pai se fora.

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